Ontem foi realizado o primeiro debate para a eleição do prefeito da maior cidade brasileira: São Paulo. Após uma grande celeuma, ficou definida a participação de cinco candidatos: o atual prefeito, Fernando Haddad (PT); Celso Russomano (PRB); Major Olímpio (SD); João Dória (PSDB); e Marta Suplicy (PMDB).

O debate esteve longe de exibir a mais fina arte da política, mas pode ser visto como um debate de razoável nível e com poucos ataques diretos ou ofensivos. Os poucos ataques foram feitos por Major Olímpio, que caminha por fora para se firmar caricaturalmente como o Levy Fidelix da eleição municipal paulista. Devido a esse caráter morno, benéfico para aqueles que lucram com o status quo, pode-se dizer que houve somente um vencedor, mas três perdedores, no primeiro debate.

Vencedor do Debate

Celso Russomano

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Russomano não fez um debate genial. No entanto, teve a sorte de não sofrer nenhum golpe que possa impactar a sua situação confortável do primeiro lugar das intenções de voto. Na liderança, ele foi o grande beneficiado pelo caráter morno do debate. Nenhum dos candidatos focou nele ou tentou desconstruí-lo, apesar de sua posição nas pesquisas.

Ficou claro que os outros estão muito mais preocupados em chegar no segundo turno do que confrontar Russomano diretamente neste momento. Além disso, a presença de Major Olímpio no palco tornou possível que Russomano se colocasse como um candidato mais moderado. Com isso, ele evita ser tachado como um símbolo conservador, mesmo sendo do PRB, o partido da Igreja Universal. Ou seja, ele passou a ter espaço para se projetar para um público mais amplo, de centro, que deverá, mais uma vez, ser o fiel da balança no inevitável segundo turno.

Perdedores do Debate

O PT

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Já era esperado que o PT sofresse muitos ataques. O epicentro da atual onda de antipetismo se encontra no estado de São Paulo. A tentativa de associação de Haddad com a corrupção do PT nacional e com a crise político-econômica centrada em Brasília foi repetida algumas vezes no decorrer do debate.

A derrota do PT, no entanto, saiu da boca do próprio Fernando Haddad. Quando perguntado por Major Olímpio (SD) sobre a perspectiva da prisão do ex-presidente Lula, Haddad preferiu se afastar do ex-presidente e de outras lideranças de seu partido. Ele reconheceu que há maçãs podres dentro do PT e não fez uma ampla defesa de seu partido – e sim uma defesa de sua integridade pessoal. Isso acontece porque a aprovação com o trabalho de Haddad está diretamente relacionada com a aprovação do PT no âmbito nacional, como observado no gráfico abaixo.

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Nesse primeiro debate, Haddad mostrou que, se confrontado com a escolha entre defender o seu partido e salvar-se a si próprio para ter alguma chance de ser reeleito, ele vai preferir o último.

João Dória

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O candidato tucano, a começar por seu vestuário, pareceu abraçar a figura de “coxinha” que seus críticos imputam a seu partido. Ele abandonou o esperado paletó tradicional de políticos e debateu vestindo um pulôver e uma estilosa jaqueta Calvin Klein. Imagem e percepção importam na política – e Dória acabou por reforçar a imagem elitista que ele e seu partido já têm.

Por outro lado, Dória leu bastante no debate, demonstrando insegurança, e foi incapaz de criar uma empatia derivada da sensação de “olho no olho” que o telespectador tem quando o candidato olha diretamente para a câmera.

Seu maior erro, porém, foi ele quase integralmente resumir-se ao antipetismo. Primeiro, porque Haddad não está se mostrando um candidato competitivo: o petista tem somente 8% das intenções de votos e uma alta rejeição. Segundo, porque todos os outros candidatos (talvez com exceção de Marta) já estão no imaginário de oposição ao governo de Haddad (e ao PT de modo geral). O eleitor já está disposto a dar um voto anti-PT, mas limitar-se a isso não vai ser suficiente para ganhar o voto do paulistano dentre as diversas opções existentes.

A democracia

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A pequena reforma política realizada recentemente, que estipulou novas regras eleitorais, está levando a vários problemas eleitorais nas atuais eleições municipais. Um desses problemas se refere à decisão de que, para participar dos debates, um candidato precisa pertencer a um partido que tenha um número mínimo de representantes no Congresso Nacional.

Apesar de, em tese, buscar aumentar a representatividade dos participantes do processo, evitando que partidos nanicos ou de aluguel tenham uma presença superlativa nos debates, na prática, essa regra acaba por limitar a participação de alguns candidatos com amplo apoio popular e por incluir outros que não têm nenhuma base de sustentação.

Isso fica claro na disputa pela prefeitura de São Paulo. Nela, a deputada Luíza Erundina (PSOL) tem 10% da preferência eleitoral e está em 3º lugar na campanha, mas não pode participar dos debates. Enquanto isso, Major Olímpio (SD), com somente 2% da preferência paulistana, teve sua participação garantida. Isso ocorreu porque o Solidariedade tem mais congressistas que o PSOL, apesar de, pessoalmente, Erundina ter maior representatividade que Olímpio.

Uma regra intermediária para tentar equilibrar participação e representatividade seria ver o apoio observado aos candidatos (e não a seus partidos). Nos EUA, por exemplo, todo candidato com pelo 15% de preferência nas pesquisas tem a sua presença garantida, independentemente de quantos congressistas haja.

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