Por Casey Given

Direitistas são frequentemente acusados de estarem “presos ao passado”, e por uma boa razão. Muitas visões tradicionalmente entendidas como conservadoras em assuntos que variam da imigração à teoria da evolução, passando pela questão LGBT, não se encaixam na realidade social do século 21.

Mas a esquerda também não está livre de crenças retrógradas. Um exemplo: o senador americano Bernie Sanders, assumidamente socialista e candidato à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata, notável fenômeno de popularidade recente dentro de seu partido.

De diversas formas, Sanders é como seus colegas democratas do Congresso. Suas preocupações centrais são a desigualdade de riqueza, doações políticas de corporações milionárias e mudanças climáticas – ao menos é o que diz seu site de campanha. Por outro lado, Sanders discorda veementemente de seu partido em suas posições anti-globalização, opondo-se com vigor a acordos globais de comércio.

Neste sentido, basta ver como Sanders descreveu o Acordo de Comércio Trans-Pacífico, proposto pelo Presidente Barack Obama:

“O acordo segue os trilhos de outros pactos radicais de livre comércio como NAFTA, CAFTA e o acordo comercial permanente com os chineses. Acordos do tipo têm forçado trabalhadores americanos a competirem desesperadamente contra o trabalho de desesperados que ganham salários baixíssimos em outros cantos do mundo. São acordos comerciais protegidos por grandes corporações, que contribuíram significativamente para uma corrida que tem o fundo do poço como destino, com o colapso da classe média americana e a crescente desigualdade de renda e riqueza. O Acordo Trans-Pacífico é mais do mesmo, só que ainda pior.”

Em outras entrevistas recentes, como nesta para o site Vox.com, Sanders reforça sua posição isolacionista, atacando até mesmo os pobres e estrangeiros que gostariam de imigrar para os Estados Unidos.

De fato, acordos comerciais têm consequências econômicas complicadas, mas economistas concordam quase unanimemente que a globalização do comércio internacional em décadas recentes melhorou enormemente a qualidade de vida das pessoas de todo o mundo.

A demanda americana por bens baratos ajudou milhões dentre os trabalhadores “desesperados que ganham salários baixíssimos” a saírem da pobreza, especialmente em países como Índia e China. Nada mais distante de uma “corrida ao fundo do poço”: as consequências da globalização permitiram que todos os americanos, ricos ou pobres, tivesse acesso a produtos que antes eram privilégios de uma elite, como ar condicionado e computadores.

Sim, “dezenas de milhares de indústrias” faliram nos últimos 50 anos por causa desta mudança econômica, mas tratavam-se de empregos simplesmente insustentáveis numa economia de alta tecnologia, voltada ao setor de serviços. Já se foram os tempos da indústria, em que um pai de família americano sustentava toda a sua família com um um emprego industrial. Ainda bem.

Comida, roupas, tecnologia e tratamento de saúde são melhores hoje do que jamais foram. Além disso, esse modelo de trabalhador industrial do pós guerra só foi acessível para alguns homens brancos. O passado econômico pelo qual Sanders e a esquerda anti-globalização sentem nostalgia era um pesadelo para as minorias.

Sanders certamente vai levar consigo muitos aplausos em sua campanha de repúdio a políticas ultrapassadas dos Republicanos, mas isso não muda suas atitude retrógrada em economia, que simplesmente ficou presa no passado.

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