Com a Coluna Kataguiri chegando à Brasília e a ressurgência da pauta do impeachment, apresenta-se mais um momento decisivo em que o ainda infante movimento liberal brasileiro mostra um dos seus vícios originais: a sua reatividade. Em um dos meus primeiro textos nesse blogue mostrei o meu descontentamento com essa chata mania de ainda sermos um movimento do negativismo, de sermos sempre anti-alguma-coisa no lugar de nos apresentarmos a sociedade como um movimento propositivo, com projeto. Isso se fica claro na comparação do “Fora FHC” e o atual “Fora Dilma”. Os dois estavam permeados com fortes acusações de corrupção e uma situação economicamente complicada.

No caso de FHC, a crítica era claramente política. As ‘acusações’ de que aquele era um governo ~neoliberal~  eram (e ainda são) uma crítica, mas eram também um movimento de proposição que levou a consequências que vão desde a formulação de uma ‘nova matriz econômica’ à uma ampla produção acadêmica. De tal sorte, a esquerda conseguiu transformar ~neoliberal~, que ao fim e ao cabo é um espantalho, em um conceito academicamente válido e que, no caso brasileiro, tornou-se um período da nossa história política supostamente superado por Lula (que, objetivamente, é talvez presidente mais neoliberal de todos). Esse discurso, somado aos problemas dos últimos anos do governo FHC e a tacanha oposição realizada pelo PSDB, são causas relevantes para o sucesso político do petismo e para o fato de a palavra ‘privatização’ ter se tornado palavrão na política brasileira.

No caso do “Fora Dilma”, porém, a crítica parece ser apolítica. As acusações não vão muito além de serem os petistas corruptos (ou, por vezes, deriva para uma paranóia anti-comunista como se o PT estivesse prestes a acabar com a propriedade privada no Brasil). A discussão sobre corrupção, como está sendo realizada, é apolítica. Isso se explicita porque dela se fala imaginando-se que a corrupção é causada por algumas pessoas ou por uma organização – e não por termos um Estado como muita capacidade discricionária promovendo a existência de corruptos e corruptores, independentemente das suas filiações partidárias. A julgar pelas correlações internacionais, menos PT com muito estado continua resultando em muita corrupção.

A personalização da corrupção sobre Dilma e Lula é, na verdade, o outro lado da moeda do messianismo brasileiro de que precisamos de um salvador da pátria. Isso é muita jabuticaba, mas pouco liberalismo. Pra piorar, esse vácuo de política leva e deixa espaço para um discurso autoritário e anti-liberal de volta dos militares. Militares estes que – do ponto de vista social, político e econômico – fizeram os governos mais antagônicos, na história recente brasileira, aos ideais liberais.

Ainda não conseguimos apresentar à sociedade nas manifestações e nos gritos de “Fora Dilma” uma crítica política ao governo que permita apontar o que causa os problemas nacionais e quais são as soluções. Precisamos deixar claro que a política nacional-desenvolvimentista da ‘nova matriz econômica fracassou e que temos uma proposta que pode dar certo. Para mudarmos as nossas vidas e o Brasil precisamos participar da política e para tal precisamos ter propostas e apresentá-las a sociedade. Caso contrário, os brasileiros vão continuar odiando os políticos e os partidos enquanto adoram o governo e as soluções estatistas para os problemas nacionais.

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