Por Beatriz Martins

Desde o início das campanhas presidenciais de Dilma Rousseff, em 2010, a equipe de propaganda do PT fez questão de frisar o A no final de “presidenta”. Uma decisão bastante acertada, visto que Dilma de fato representava uma inovação, uma quebra no monopólio masculino do cargo mais importante do país. Quatro anos depois, já é possível analisar o quanto seu governo foi ou não progressista, e o mais importante – pelo menos para este tópico – o quanto ter uma mulher no poder foi positivo na luta pelo equilíbrio na balança dos gêneros.

Dilma fez com que os partidos brasileiros perdessem um pouco do medo de lançar candidatas à presidência. Se hoje temos três mulheres concorrendo ao cargo, com certeza parte disso vem do sucesso de sua primeira campanha. O mais interessante na candidatura destas três mulheres – Dilma Rousseff, Marina Silva e Luciana Genro – é o fato de haverem representantes femininas para praticamente todo o espectro político brasileiro (embora, é claro, se note a falta de uma candidata mais libertária), mesmo pelo lado mais conservador. Percebe-se que o empoderamento feminino, tão pregado e praticado dentro dos círculos feministas, está finalmente sendo exportado para fora destes, e que houve um grande progresso no senso comum brasileiro quanto à competência das mulheres para o exercício da política.

Para alguns o fato de termos duas mulheres liderando as intenções de voto é um indicador de que o Brasil não é mais um país machista, como afirma Rodrigo Constantino neste artigo, porém tal afirmação se mostra falaciosa ao observarmos a enorme diferença na pontuação de Marina e Dilma nas pesquisas em relação a Luciana Genro. As mulheres estão mais empoderadas na sociedade, mas quanto deste poder concentrado nas mãos da presidenta (ou futura presidenta) está sendo ou será usado para a emancipação da mulher brasileira?

Luciana Genro, notadamente, é a candidata mais progressista em questões de gênero. Ela é a favor da descriminalização do aborto, tem em seu programa de governo a Lei João W. Nery (que dá autonomia a pessoas trans* para a definição de seu gênero) e fala de “outras políticas públicas para a mulher” (não especificadas). Dilma fala nas tais políticas para mulheres também, mas na prática fica em cima do muro, exatamente como Marina e seus plebiscitos. O Bolsa Família fez, sem querer, muito mais pelo empoderamento feminino do que qualquer atitude tomada conscientemente para este fim pela presidenta nestes quatro anos.

A posição de Luciana nas pesquisas mostra que o Brasil ainda não tem demanda para a pasta feminista. Mulheres na política sim, feminismo jamais. Uma posição à frente do que se viu em eleições passadas, mas ainda longe do esperado para uma sociedade igualitária. Então não, não basta ser mulher. Não quando as pautas relacionadas à desigualdade de gênero são relegadas a segundo plano, não quando toda a estrutura política está viciada no ciclo homens no poder -> mulheres desinteressadas em política -> poucas candidatas -> homens no poder. É preciso, sim, quebrar este ciclo, mas com as mulheres certas.

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Nota: esta postagem é simplesmente uma análise da representação feminina na política, mais especificamente na corrida à presidência, e não necessariamente uma declaração de apoio a Luciana Genro. Recomendo fortemente a página Vote Numa Feminista, que se propõe justamente a divulgar as pautas de candidatas ao legislativo de diversos partidos, e não somente do PSOL.

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Beatriz Martins é estudante e militante feminista em formação. Tem interesse em praticamente tudo, desde política até os alfinetes da camiseta da Joan Jett (principalmente os alfinetes da Joan Jett). Se não está discutindo alguma coisa relacionada a libertarianismo, feminismo interseccional ou se esforçando (em vão) para ser vegetariana, provavelmente está assistindo a algum filme e procurando os erros de continuidade.

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