Por Coletivo Nabuco*
Neste sábado, aconteceu a IV Marcha das Vadias do Recife. O Slutwalk, de onde originou-se a Marcha, surgiu no Canadá depois de uma série de estupros sofridos por alunas na Universidade de Toronto, quando um policial declarou que, para evitar os estupros, as mulheres deviam evitar se vestir como vadias. Daí milhares de mulheres saíram às ruas para protestar contra essa cultura de culpabilização da vítima.
Nós, do Coletivo Nabuco, concordamos que seria importante comparecermos nesse espaço onde a pauta é essencialmente liberal, mesmo que as propostas de solução mais comuns pareçam monopolizadas por ideias da esquerda estatista. Então, oras, que fôssemos lá, que fôssemos marcar presença e dialogar com esses setores da sociedade, que fôssemos colocar também a nossa posição.
Uma semana antes, simpatizamos com a ideia de Rafael Bechara de panfletar o artigo “Seduzidas e Desonradas” da libertária Maria Lacerda de Moura na Marcha das Vadias em Belo Horizonte. Decidimos fazer o mesmo, preparamos alguns panfletos para distribuir também em Recife, para mostrarmos como esse artigo de 1927 poderia, infelizmente, ainda ser tão atual.
Nos apresentamos na Praça do Derby com nossos meninos praticamente uniformizados: Camiseta amarela do Nabuco e saias. As mulheres se apresentaram mais pluralmente. Assim surgiu uma situação reflexiva em meio ao movimento, pois mesmo não tendo tanta diferença entre o número de garotos saiados e garotas, como quer que estivessem, e ainda considerando o protagonismo da mulher nesse ambiente de reivindicação, as pessoas insistiam em abordar somente os meninos de saias.
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(entrevista do Coletivo a partir de 2:00)
Abordagem que foi assustadora, inclusive. Mal chegamos e nos agrupamos, logo repórteres queriam saber o que era o Coletivo Nabuco, o que nos teria levado a comparecer à Marcha. Pessoas tiravam fotos, faziam perguntas e pediam o panfleto. O susto que tomamos, parte por sermos um Coletivo recente de pessoas que (em geral) nunca participaram de outros grupos de ativismo, logo se transformou em uma sensação de satisfação de que estávamos no lugar certo, na hora certa, que estávamos em contato com pessoas que talvez nunca tivessem escutado posicionamentos como os nossos e que se interessavam em saber mais do ideal alternativo de uma sociedade mais justa e menos opressora com todos e todas. Nesse dia, principalmente, com as mulheres.
Claro que esperávamos, por sermos um Coletivo liberal e por termos rostos conhecidos do movimento entre nossos e nossas integrantes, escutar coisas desagradáveis advindas do preconceito com o liberalismo, associado erroneamente ao conservadorismo e os ditos ideais burgueses. Percebemos, por exemplo, que um dos cantos entoados pela Marcha, aquele que dizia “mulheres contra o machismo capitalista neoliberal”, foi, ao menos uma vez, instigado por cruzarmos os olhos com manifestantes da esquerda estatista mais radical.
Não somos machistas, não defendemos o “capitalismo” vigente, tampouco somos neoliberais. Muito pelo contrário, diria.
A verdade é que estamos em uma situação curiosa: não há conhecimento do liberalismo entre os movimentos sociais atuais, da mesma forma que há uma resistência de setores do movimento liberal em entender como esses movimentos funcionam. E é aí que entra o papel do Nabuco.
Reconhecemos que sim, temos muitas concordâncias com os fins de vários movimentos da esquerda hegemônica, incluindo a emancipação feminina, tema da marcha. Por isso, devemos e queremos dialogar. Mas liberalismo também é meio, também é “o como”. Nenhuma transformação na sociedade é legítima se não estiver em consonância com a amor à liberdade alheia, não importa o quanto ela se diga progressista. A libertação humana, em todas as esferas, “na cama e na feira”, será alcançada por meio da ampliação e esclarecimento das redes de cooperação voluntária. É nisso em que acreditamos e é isso que pretendemos afirmar e divulgar em todos os espaços.
O Coletivo Nabuco é um grupo de ativismo recém fundado na capital pernambucana, associado à rede Estudantes pela Liberdade. Defendem a liberdade na cama, na feira e em todas as esferas. Além de terem o poder de causar um rebuliço enorme no movimento liberal com coisas simples como as saias de suas mães.