por Roberto Xicó
Com o recente texto do Gregório Duvivier, o animado Fla x Flu do debate político “feicebuquiano” ganha mais causo. Agora, cada lado tem tem o seu humorista: Gregório e Gentilli. Sobre os erros do texto do Gregório, recomendo o texto publicado aqui no Mercado Popular. Mas quero fazer uma coisa que a esquerda não fez com o Danilo Gentili. Eu quero entender o Gregório, quero entender o o que ele entende por liberalismo e de onde isso surge.
Provavelmente, o texto surge a partir da reportagem da Veja sobre o Partido Novo. Reportagem essa, que ou trollou os pobres meninos ou está totalmente descolada da realidade ao achar que isso serviria de boa publicidade para alguém. Sem dúvida, ela fornece muita munição para todo tipo de ataque – qualificado ou não. No entanto, isso não é suficiente para entender o por quê de uma pessoa inteligente como o Gregório e que professa ideias que pode ser consideradas liberais ter uma visão tão caricata e equivocada.
Por que, no Brasil, ainda há tanta gente acreditando que o liberalismo significa não querer que seu filho estude com um filho de motoboy? Por que acham que liberalismo é compatível com homofobia? Por que acham que a nossa luta contra o Estado é a favor de privilégios? Por que não se vê que a nossa luta contra o Estado é, na verdade, para que o filho do motoboy não vire órfão – como viraram filhos de tantos nas regiões pobres desse país que se foram nas mãos corruptas e repressoras dos agentes do Estado?
Há a resposta fácil de que a culpa é dos outros. Dos outros que, na melhor das hipóteses, são uns “idiota úteis”. Dos outros que tem um plano maligno do “marxismo cultural” para a dominação nacional. Essa é a resposta fácil, mas não acho que seja a resposta certa. A resposta é que nós, por muito tempo, pelo silêncio ou pela falta de foco, toleramos essas ideias tão contrárias aos elementos fundamentais do pensamento liberal.
Note que, recentemente, o Brasil viu um dos mais nítidos casos de violência de Estado contra uma vítima inocente. Amarildo foi torturado e morto, levando a uma onda de protestos e discussões sobre o fracasso que é a nossa segurança pública. Mas um dos mais notórios blogueiros auto-denominados liberais do país falou do caso para, somente, atacar a esquerda e o governo. Não falou do Amarildo em si. Não falou que, na verdade, somos de fato “todos Amarildo”. Somos todos que, de diferentes formas e graus, sofremos com a opressão do Estado. Não falou do fundamental do pensamento liberal que é a defesa do indivíduo, independentemente de suas características: seja ele é negro ou branco, morador do asfalto ou de comunidade. Não o fez.
A resposta correta é que enquanto uma parte importante dos liberais continuem a limitar o complexo e rico pensamento liberal a um anti-esquerdismo (ou anti-lulo-petismo) enquanto não deixarmos claro que o pensamento liberal vai muito alem de diminuição de impostos e redução do Estado, Gregório vai estar redimido.
Pode até não estar certo, mas tampouco achará motivos para ver que está errado.
Roberto Xicó é cientista político que era marxista e se tornou liberal na universidade. Ele não sabe como. Só sabe que foi assim. Seus interesses são política, história, MPB e tecnobrega. Ele não vai falar de economia porque acha isso um saco.