• Inicial
  • Quem somos
    • Manifesto
    • Equipe
    • Fale com o Mercado
  • Categorias
    • Filosofia
    • Política
    • Economia
    • Cultura
    • Direito
    • Internacional
    • Gênero & Sexualidade
    • Urbanismo
  • Pesquisa
    • Mini-MIM: Modelo de Previsão Macroeconômica
    • Notas de Políticas Públicas
  • Imprensa
Instituto Mercado Popular
Gênero & Sexualidade

Artigo abre discussão sobre machismo online

Por Deborah Bizarria · Em 19/10/2017

A monografia de Alice H. Wu foi premiada e imediatamente reconhecida como pioneira. Toda a informação estava na internet: um milhão de posts de um grande fórum online de economistas acadêmicos, conhecido como EJMR. Ela tentou entender como o conteúdo dos posts variava conforme o assunto era homem ou mulher.

Atualmente doutoranda na Universidade de Harvard, Wu teve sua tese laureada como melhor de 2017 na Universidade da Califórnia-Berkeley e foi repercutida em grandes jornais americanos.

Mulheres há muito reclamam de serem tratadas de forma diferente – na internet, no mercado de trabalho ou na academia. Wu reconhece que estudos neste campo não tem avançado. Nem mesmo em experimentos de laboratório seria possível captar e medir “viés de gênero”. Mesmo se esses experimentos existissem, os participantes dificilmente agiriam com naturalidade.

Com os posts do Economic Job Market Rumours (EJMR) – fórum voltado para estudantes de Ph.D em economia, onde as postagens são anônimas. Wu coletou evidências que vão muito além de estereótipos de gênero na academia. Seu trabalho buscou estudar um fenômeno já percebido por muitos, mas pouco medido: o machismo em fóruns virtuais.

Gênero e o conteúdo dos posts

Alice Wu identificou se os posts eram sobre homens ou mulheres utilizando palavras-chave. Um exemplo são pronomes – ele, ela, dele, dela entre outros. Sua busca foi aprimorada pelo aprendizado de máquinas, ou machine learning. Com isso, o programa categorizou o “tópico” das conversas: se eram ligados a profissão e ao ambiente acadêmico, se faziam referência a aspectos da vida pessoal ou aparência física, etc. Com isso, realizou uma profunda análise dos posts sobre homens e mulheres.

Assim, Wu conseguiu identificar as palavras mais associadas a cada gênero. Usando os critérios mais restritos para marcação de gênero, a análise das palavras mais masculinas e femininas deixa clara as diferenças.

As expressões mais femininas são: gostosona, lésbica, BB (gíria para “baby”), sexismo, peitos, casando, feminazi, vadia, gostosa, vagina, seios, grávida, gravidez, fofa, casar, imposição, deslumbrante, safada, ‘crush’, linda, secretaria, deixar, comprando, encontro/namorar (“date”), sem fins lucrativos ( “nonprofit”), intenções, sexy, namorou e prostituta.

As mais masculinas, sob os mesmos critérios, eram: suculento, chaves, conselheiro, valentão, preparar, lutou, wharton, austríaco, faísca, homo, genes, e7ee, matemático, orientador, ardente, precificando, ‘philly’, banda, KFC, nobel, cmt, divertido, melhor, manual, objetivos, telhado, apotando, episodio e tenta.

Posts sobre mulheres têm, em média, 43% menos termos profissionais ou acadêmicos e tem 192% mais termos ligados a vida pessoal e aparência física.

Popularidade da thread em relação ao gênero

Uma parte adicional da tese de Wu investigou se, dentre os economistas mais renomados, haveria uma diferença na popularidade nas threads sobre homens ou mulheres. Ou seja, observando apenas os posts de pesquisadores com muitas citações, haveria diferença no engajamento gerado por homens e mulheres.

Apesar de que cerca de 60% dos posts tem menos de 8 posts em ambos os casos, há grande diferença nos extremos da distribuição e 18% dos que possuem títulos “femininos” possuem mais de 18 posts, enquanto para os títulos “masculinos” a proporção é de 12%. Essa alta concentração em threads relacionados a mulheres induzem a maiores discussões, ficando atrás apenas daquelas que possuíam títulos neutros.

Ainda dentro desse grupo da elite acadêmica, a autora refez a análise dos posts por tema: as que eram mais focadas em economistas homens (primeiro quartil) apresentaram em média 3.52 termos acadêmicos/profissionais por post. Quanto maior o conteúdo “feminino” de uma thread, menor a incidência desses termos. Esse fosso pode chegar a algo entre 46%-48% nas mais populares (quarto quartil), ou seja, cerca de 1.76 palavras acadêmicas/profissionais de diferença, o que mostra consistência em relação à análise anterior, somente dos posts.

Já quanto aos temas mais pessoais/físicos ela fez uma descoberta interessante, ao colocar o número de posts relacionados a gênero como ‘peso’ a diferença salta de 66.9% (mais termos de vida pessoal ou atributos físicos) para 149%. Então, para esse tema, o gênero se revela como tendo uma grande influência no número de posts, uma vez que as palavras relacionadas a aparência, por exemplo, estão bem mais correlacionadas com gênero do que as palavras ligadas a profissão.

O tese de Alice Wu aponta que nos dois agregados de conteúdo (thread e post) a conclusão se mantém: quando se trata de mulheres os posts além de terem mais referências a aparência física e a vida pessoal, com menos referências a vida acadêmica e profissional. Ainda, o nível de popularidade nas threads também tem forte relação com gênero,  as que eram sobre mulheres angariaram mais participação do que aquelas sobre homens.

Para Wu, seus resultados são indícios que em ambientes online e anônimos se “eliminam qualquer pressão social que participantes possam sentir ao editar suas declarações”. O estudo tentou “captar aquilo no qual as pessoas acreditam, mas não diriam abertamente”. Ela ainda afirma que, à luz de suas conclusões, mudanças para um ambiente online mais inclusivo na comunidade acadêmica deveriam ser feitas. Informalidade e liberdade de expressão não são desculpas para perpetuar estereótipos de gênero, prejudicial ao desenvolvimento profissional de tantas mulheres.

Repercussão e Ressalvas

A repercussão do estudo foi grande e logo surgiram várias manchetes como “Evidência de um ambiente tóxico para mulheres em economia” e  “evidência de sexismo em economia”, inclusive saindo um comentário do David Romer, célebre economista de Berkeley, que classificou estudo como o retrato de uma latrina de misoginia. As economistas Janet Currie, economista empírica de Princeton, e Silvana Tenreyro, professora na proeminente LSE, endossaram as conclusões do trabalho de Wu.  Seu orientador foi David Card, vencedor da Medalha John Bates Clark e ex-editor da Econometrica, periódico que costuma ditar o que há de mais rigoroso em termos de método na economia. Apesar de ter sido feita por uma estudante de graduação, a tese agradou inclusive quem exige excelência, com uma metodologia inovadora para esse tipo de análise.

O que mostra que esse estudo é importante para a discussão acerca do ambiente de trabalho para mulheres de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). Além de ter uma metodologia inovadora para esse tipo de análise, ainda assim é interessante que algumas ressalvas sejam feitas, visto alguns exageros da mídia ao abordá-lo.

O Economic Job Market Rumors possui vários tipos diferentes de thread desde os mais sérios sobre métodos quantitativos a fofocas do ambiente acadêmico e piadinhas, e por ser um fórum anônimo não há como saber se os autores de cada post pertencem à comunidade acadêmica de economia ou não —fato reconhecido pela própria autora em seu artigo. Então, embora seja razoável supor que lá há participação de vários economistas, é bom lembrar que o fórum em si não pode ser tido uma amostra representativa da comunidade acadêmica como um todo.

Alguns economistas gostam de várias das discussões do fórum. Como o professor George Borjas que, no ano passado, escreveu em seu blog sobre o que achava do EJMR, dizendo: “Ainda há esperança para a humanidade quando muitas das postagens são escritas por um grupo de jovens cientistas sociais sobre-educados ilustram a eliminação dos grilhões de correção política e refletem mundanas preocupações com a partilha de seres humanos mais normais: o prestígio, o sexo, o dinheiro, o emprego, o sexo, a má conduta profissional, as fofocas e o sexo… “. Contudo, ao receber uma cópia do estudo de Wu, Borjas ponderou: “Embora exista algum valor nesse fórum, também há algo que é ofensivo e perturbador. O problema é que não tenho certeza exatamente onde desenhar um limite. “

No fim, todo o debate referente a ambiente de trabalho acaba recaindo sobre bom senso e adequação, e de como muitas vezes é difícil estabelecer limites entre o próprio e o impróprio. Este artigo traz dados interessantes sobre o assunto, mais especificamente, sobre como alguns profissionais de economia agem em ambiente mais informais e anônimos, mas não deve ser generalizado — como alguns sites de notícias fizeram por aí. O uso da metodologia por Wu para estudar ambientes online é inovador e partir dele podemos lançar uma luz no que diz respeito a interações anônimas em questões de gênero.  

Compartilhe:

  • Facebook
  • Reddit
  • Twitter
  • Google
  • Pinterest
  • LinkedIn
  • Imprimir

Comentários

Compartilhar Tweet
Deborah Bizarria

Deborah Bizarria

Estudante de Economia pela UFPE e Coordenadora Local no SFLB

Você também pode gostar

  • Economia

    Estudo expõe machismo nos Supremos – o mesmo que vimos no julgamento de Lula

  • Gênero & Sexualidade

    Esqueça as ideologias: o que a ciência já descobriu sobre pessoas trans

  • Direito

    Deixem as mulheres escolherem quais casas noturnas frequentar!

Curta nossa página no Facebook

Últimas publicações

  • Em 5 minutos e sem juridiquês: entenda a confusão sobre o julgamento de Lula no STF

    09/04/2018
  • Estudo expõe machismo nos Supremos – o mesmo que vimos no julgamento de Lula

    06/04/2018
  • A derrocada do Rock influenciou a venda de guitarras do Brasil? Veja os dados.

    24/03/2018
  • Mais armas, mais crimes: por que mudamos de ideia. Veja os dados.

    20/03/2018
  • Como melhorar FIES, ProUNI e acesso dos mais pobres à universidade

    17/03/2018
  • Por que exportamos mais soja do que navios, apesar de BNDES e FIESP

    12/03/2018
  • O Brasil está mais corrupto? Não é bem assim

    22/02/2018
  • Saneamento básico: A agenda do século 19 que o Brasil ainda não enfrentou

    17/02/2018
  • Reforma da Previdência: Um Guia para Não-Economistas

    07/02/2018
  • As manchetes sobre o relatório da Oxfam são confiáveis? Veja os dados.

    22/01/2018
  • O gás subiu, a inflação está baixa e não há indício de manipulação

    16/01/2018
  • O que o negacionismo climático ensina sobre reforma da previdência

    13/01/2018
  • Quatro passos para se desfiliar de um partido político

    07/01/2018
  • A crise brasileira não foi causada por austeridade

    04/01/2018
  • E os melhores amigos da desigualdade em 2017 foram…

    03/01/2018
  • Em busca de cliques, imprensa desinforma sobre desemprego em novembro

    28/12/2017
  • A “verdade politicamente incorreta” publicada no Mises Brasil era só incorreta

    26/12/2017
  • O PSOL é o retrato da elite brasileira

    22/12/2017
  • Esqueça as ideologias: o que a ciência já descobriu sobre pessoas trans

    17/12/2017
  • Internet agora é coisa de preto – e isso revolucionou a luta anti-racismo

    20/11/2017
  • A desigualdade regional no Brasil não é o que você pensa

    14/11/2017
  • Funcionários públicos ganham mais do que trabalhadores do setor privado? Veja dados

    14/11/2017
  • No Chile, dar mais universidade gratuita piorou acesso dos mais pobres

    12/11/2017
  • Partidos políticos perdem por não investirem em ética

    10/11/2017
  • David Blaine e a reforma da Previdência

    06/11/2017
  • Por que “os verdadeiros” liberalismo e socialismo estão errados

    30/10/2017
  • “Direitos Humanos”, desculpa fácil para calar quem incomoda

    29/10/2017
  • O obscurantismo antidéficit chegou ao Senado. Quem vai pará-lo?

    25/10/2017
  • O Brasil está ficando velho – e mais rápido do que imaginávamos

    22/10/2017
  • Como a imprensa desinformou sobre a nova taxa de bagagem

    20/10/2017
  • Inicial
  • Quem somos
    • Manifesto
    • Equipe
    • Fale com o Mercado
  • Categorias
    • Filosofia
    • Política
    • Economia
    • Cultura
    • Direito
    • Internacional
    • Gênero & Sexualidade
    • Urbanismo
  • Pesquisa
    • Mini-MIM: Modelo de Previsão Macroeconômica
    • Notas de Políticas Públicas
  • Imprensa

Sobre o Mercado Popular

O Mercado Popular é uma organização dedicada à divulgação de ideias, atitudes, estudos e políticas públicas que promovam uma sociedade aberta, próspera e tolerante.

O MP acredita e busca promover a ideia de que historicamente a economia livre e a garantia das liberadades individuais são, em conjunto, o melhor caminho para emponderar os mais vulneráveis socioeconomicamente, para a promoção da paz, cobate à pobreza e violência, enfrentamento à intolerância de gênero, raça ou orientação afetiva.

Em resumo, para nós, a liberdade é um aliado da justiça social.

Categorias

  • Análise econômica do Direito (12)
  • Caos Planejado (13)
  • Cultura (103)
  • Direito (112)
  • Ecologia (4)
  • Economia (232)
  • Economia em 5 minutos (5)
  • Educação (8)
  • Empreendedorismo (1)
  • Fact-Checking (1)
  • Filosofia (102)
  • Gênero & Sexualidade (25)
  • Hangout (4)
  • História (66)
  • Internacional (131)
  • Política (305)
  • Políticas Públicas (58)
  • Tecnologia (11)
  • Uncategorized (21)
  • Urbanismo (26)
  • Vídeos (22)

Doações

Se você gosta do nosso coletivo, apoie-nos doando bitcoins.

Bitcoin

Carteira Bitcoin:

1MXVas9Q9EmZcmKe5ge1Ub7xvubJU5viNx

Aceitamos papel moeda, também:

Buscar

ATENÇÃO: Se a gente descobrir que você está republicando conteúdo daqui sem autorização, nós vamos descobrir seu endereço e te mandar um cartão de agradecimento.